O Brasil passa por uma transformação demográfica inédita na história do país. A população brasileira é formada por 104,5 milhões de mulheres (51,5%) e 98,5 milhões de homens (48,5%), segundo dados do Censo Demográfico 2022. Nunca a diferença entre os dois gêneros foi tão grande.
Entre 1872 e 1940, os homens eram maioria. Porém, de lá para cá, a população feminina tem superado a masculina. Mesmo assim, a proporção se manteve próxima ao longo dos anos.
Foi somente a partir do Censo de 1970, quando o país era habitado por 46,8 milhões de mulheres e 46,3 milhões de homens, que o indicador feminino passou a se descolar do masculino.
A diferença entre o número de mulheres e o número de homens disparou 1.152% de 1970 a 2022, ao passar de 480.346 para os atuais 6.015.894.
Segundo o levantamento do IBGE, em todas as regiões do país até há mais nascimento de homens do que de mulheres. Porém, quando eles atingem 19 anos de idade, a razão entre os dois grupos começa a mudar.
“Isso está relacionado com a maior mortalidade dos homens em todos os grupos etários: desde bebê até as idades mais longevas, a mortalidade dos homens é maior. Além disso, nas idades adultas, a sobremortalidade masculina é mais intensa. E, com o envelhecimento populacional, a redução da população de até 14 anos e o inchaço da população mais idosa, há um aumento da proporção de mulheres, já que elas sobrevivem mais em relação aos homens”, analisa a gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri.
A partir da faixa etária de 25 a 29 anos, elas passam a sobressair. No Nordeste, isso se inicia até antes, dos 20 aos 24 anos.
De acordo com o instituto, os homens passam a morrer por “causas externas”. Tércio Rigolin, geógrafo e autor de mais de dez livros, cita as doenças de coração entre os motivos.
No mesmo sentido, segundo a Secretaria de Atenção à Saúde Primária, do Ministério da Saúde, há “tendência de maior mortalidade precoce [pessoas de até 60 anos] entre homens, especialmente decorrente de doenças crônicas não transmissíveis [DCNT], caracterizadas principalmente por doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, neoplasias e diabetes mellitus”.
“Em 2018, esses quatro principais grupos de DCNT foram responsáveis por 55% do total dos falecimentos no Brasil, e os homens apresentaram maior risco de morte do que as mulheres em todos esses grupos, principalmente para doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas, com 40% a 50% mais risco de morrer por uma dessas enfermidades. Esse risco foi aumentado entre homens que fazem uso excessivo de álcool, possuem dieta e estilo de vida pouco saudáveis, com pressão alta e/ou alto índice de massa corporal, conforme pesquisa Vigitel 2020”, completa a pasta.
A secretaria também aponta um fator cultural que afasta os homens da prevenção sanitária. Para o órgão, “os homens foram preparados, desde a infância até a vida adulta, para o desempenho da masculinidade — incluindo hábitos, valores e crenças —, que representa ainda uma barreira cultural importante para a prevenção de doenças e a promoção da saúde”.
Além disso, o geógrafo Renato Araújo diz que “homens morrem mais de homicídio e latrocínio, além de acidentes de trânsito”.
Em 2019, 7.879 homens de 15 a 29 anos morreram no Brasil por acidentes de transporte. Nas mesmas condições, foram 1.446 mulheres. Os dados são do Ministério da Saúde, compilados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no Atlas da Violência.
Esse levantamento revelou ainda que, naquele ano e no mesmo grupo etário, a taxa de homicídios para homens era de 93 em cada 100 mil habitantes. Para mulheres, foi de seis.
De acordo com o Censo do ano passado, a expectativa de vida da mulher é de 80,5 anos. Para o homem, por sua vez, é de 73,6 anos. “Homens morrem mais e morrem antes”, resume Tércio Rigolin.
Fonte:R7