Parlamentares votam nesta quarta relatório que pede indiciamento de Bolsonaro por quatro crimes

 



Os parlamentares da CPMI do 8 de Janeiro votam nesta quarta-feira (18) o relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que pede o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais 60 pessoas. No texto, Eliziane afirma que Bolsonaro cometeu quatro crimes: associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado democrático de Direito e golpe de Estado, todos por condutas dolosas, ou seja, intencionais.

Por outro lado, a oposição apresentou um documento paralelo (leia mais abaixo), no qual isenta o ex-presidente e acusa integrantes do governo Lula de omissão. Esse documento só será posto em votação no caso de o relatório de Eliziane ser derrotado, o que é pouco provável, já que a ala governista tem maioria no colegiado.

Confirmada a aprovação, o documento é encaminhado à Procuradoria-Geral da República, que decide se aceita os pedidos de indiciamento.

Os fatos aqui relatados demonstram, exaustivamente, que Jair Messias Bolsonaro, então ocupante do cargo de presidente da República, foi autor, seja intelectual, seja moral, dos ataques perpetrados contra as instituições, que culminou no dia 8 de janeiro de 2023.

SENADORA ELIZIANE GAMA (PSD-MA), RELATORA DA CPMI DO 8 DE JANEIRO

Uma CPI não pode indiciar investigados, mas indicar ao Ministério Público a responsabilização criminal ou civil de uma pessoa. Segundo a relatora, Bolsonaro descredibilizou o sistema eleitoral e "alimentou a violência entre a população brasileira" durante a campanha presidencial.

Ainda de acordo com Eliziane, os ataques às sedes dos Três Poderes foram baseados em "método". "A proposta não era apenas ocupar, mas depredar", apontou. Segundo a senadora, o "objetivo era provocar o caos, desestabilização política e até mesmo uma guerra civil".

Além do ex-presidente, a relatora também aponta a participação de 31 militares nos atos extremistas. Entre personalidades da alta cúpula das Forças Armadas, estão os nomes dos generais Braga Netto e Augusto Heleno e do tenente-coronel Mauro Cid, além de ex-comandantes das Forças Armadas, sendo eles Almir Garnier, da Marinha, e Marco Antônio Freire Gomes, do Exército.

Relatório da oposição

Parlamentares da oposição também apresentaram um relatório paralelo, em que isentam o ex-presidente Jair Bolsonaro e pedem o indiciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Justiça, Flávio Dino, do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Gonçalves Dias e de mais três pessoas.

No documento, a oposição alega que Lula deve ser indiciado pelos crimes de prevaricação, deterioração de patrimônio público e dano qualificado. Eles sugerem ainda incluir os crimes de abolição do Estado democrático de Direito e golpe de Estado caso o Supremo Tribunal Federal (STF), órgão competente para julgar indiciamentos, entenda que os agentes públicos que se omitiram devam responder por tais delitos.

O texto foi assinado pelos deputados Abilio Brunini, Alexandre Ramagem, André Fernandes, Filipe Barros, Marco Feliciano, Maurício Marcon, Nikolas Ferreira e Rodrigo Valadares, além dos senadores Cleitinho, Damares Alves, Eduardo Girão, Espiridião Amin, Flávio Bolsonaro, Jorge Seif, Magno Malta e Marcos Rogério. O senador Izalci Lucas chegou a apresentar um relatório próprio e depois incorporou seu texto ao documento elaborado pela oposição.

Recomendações

O relatório recomenda a criação do Memorial em Homenagem à Democracia como lembrete do ataque à democracia ocorrido em 8 de janeiro. O espaço deve funcionar na parte externa do Senado.

Outra conclusão dos trabalhos, pela avaliação da relatora, é a "existência de insuficiências legislativas que contribuíram para o 8 de Janeiro ou que prejudicaram o processo de investigação e de responsabilização dos envolvidos".

Ela cita a necessidade de aperfeiçoar marcos normativos "com o objetivo de limitar as disfuncionalidades do Estado, bem como reforçar a observância de direitos e garantias fundamentais dos brasileiros".

Relembre

No início dos trabalhos, a senadora Eliziane Gama afirmou que a comissão reconstituiria a cronologia dos atos de vandalismo. Assim, o primeiro depoimento foi o do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, que falou sobre as operações da corporação que obstruíram rodovias no segundo turno das eleições de 2022.

Também foram ouvidos o delegado da Polícia Civil do Distrito Federal Leonardo de Castro; um dos condenados por planejar a explosão de uma bomba perto do aeroporto de Brasília, George Washington de Oliveira Sousa; o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid; e o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

O último dia de depoimentos na CPMI do 8 de Janeiro foi 5 de outubro, quando foi ouvido o subtenente da Polícia Militar do Distrito Federal Beroaldo José de Freitas Júnior. O policial é do Batalhão de Choque e estava escalado para trabalhar durante os ataques na Esplanada dos Ministérios.

Freitas foi promovido de primeiro-sargento a subtenente em maio por "atos de bravura". Em depoimento à Polícia Federal, o subtenente afirmou que o Exército se recusou a combater os invasores e negou suporte.

Fonte:R7