Cinquenta e três migrantes morreram após serem abandonados dentro de um caminhão na beira de uma rodovia, em uma área pouco movimentada de San Antonio, no estado americano do Texas, na última segunda-feira (27).
Dentro do veículo estavam 66 imigrantes ilegais que tentavam entrar nos Estados Unidos. Quando os bombeiros chegaram ao local, 46 pessoas já estavam mortas. Outros oito foram socorridos, mas morreram no hospital.
O Dr. Paulo Camiz, clínico geral e professor da USP e do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que as pessoas no caminhão morreram de uma combinação de desidratação com hipertermia, além de uma possível falta de oxigênio.
"Quando o caminhão está se deslocando, o fluxo de ar é maior, mas quando ele fica parado, da maneira como ele foi abandonado no lugar, eventualmente o ar não circula tanto e as pessoas podem ter sofrido também de baixa oxigenação".
As condições do tempo foram outro empecilho na jornada. No caso dos migrantes encontrados em San Antonio, as altas temperaturas foram determinantes para que a maioria não sobrevivesse.
A situação é ainda mais grave para crianças, pois, embora elas tenham uma quantidade corpórea de água maior, elas transpiram mais, têm facilidade para desidratar e são muito sensíveis aos baixos níveis de oxigênio. Para os idosos, não é diferente. Uma pessoa de idade avançada vai ser muito mais sensível à mudança de temperaturas do que um adulto jovem.
O médico explica que a pequena parte dos migrantes que sobreviveu pode ter sido salva não só por suas características individuais, mas por diversas variáveis.
"Aonde eles estavam no caminhão, numa região que era mais arejada, que eventualmente a temperatura estava um pouquinho mais baixa nos horários de pico ou mais alta nos horários em que ela estaria mais fria. Se elas levavam água, se tinham algum mantimento".
O sonho americano é o grande objetivo de quem se expõe ao risco da travessia. Mesmo os casos de sucesso, são cercados de histórias tristes e perigosas. Na maioria das vezes, as pessoas cruzam a fronteira a pé caminho pelo deserto guiadas por coiotes, como são chamados os atravessadores que cobram para conduzir imigrantes ilegais até os EUA.
"É uma travessia perigosa, quando você está lidando com pessoas ilegais e paga adiantado, essas pessoas não têm quase nenhum compromisso. Tem casos desses coiotes em que eles acabam pegando as pessoas, levando até um determinado momento e matando, porque já tem o dinheiro e há menos risco deles acabarem sendo presos se já sumirem com dinheiro", diz Leonardo Paz Neves, integrante do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (Fundação Getulio Vargas)
Pessoas da América Latina fogem da situação de vulnerabilidade em seus países e tentam entrar em território americano. No recente caso registrado no Texas, a maioria era do México, mas havia também quem deixou a Guatemala e Honduras.
O professor da FGV explica que o fato do EUA ser a maior economia do mundo atrai tanto imigrantes legais quanto ilegais. Para muitos, se estabelecer no estrangeiro pode ser uma garantia de uma vida melhor para todos que ficaram para trás.
"Um dos incrementos de receita [de famílias na América Central] é justamente o dinheiro que pessoas nos Estados Unidos, que começam a trabalhar lá, mandam de volta para que elas possam se sustentar", diz Leonardo.
Fonte:R7